sexta-feira, 25 de maio de 2012

Simples

Eu lembro que quando eu tinha uns onze anos, meu avô encontrou meu diário no meio de umas caixas de mudança. Ele leu e veio me falar. Imagina eu, a menina que mais tinha vergonha de tudo no mundo, conversando com meu avô sobre as coisas que ele tinha lido no meu diário. O menino que eu gostava, como eu me sentia na escola, o dia que eu tinha "virado mocinha". Lembro que a sensação era de que nada mais seria igual, que a vida tinha acabado, que a partir daquele momento o mundo entraria em colapso e explodiria. Tudo porque meu avô leu meu diário. 
Mas não. Ele trocou meia dúzia de palavras comigo, disse que se eu quisesse eu poderia falar com ele sobre qualquer coisa e que tudo que tava acontecendo comigo era normal pra minha idade - mas que eu devia parar de mandar cartinha pro menino porque menina tem que esperar ele vir atrás. Poucas e óbvias, mas sábias palavras.
Eu lembrei dessa história hoje, e fui lembrando desse jeitão típico do meu avô. E sabe,  eu acho que as pessoas deveriam ser mais como ele, mais simples. Incrível como era tão fácil e tudo se resolvia com uma massagem no pé assistindo televisão, uma boa música velha ("você conhece essa moda, Monicleta?") ou uma boa comida. Não tinha enrolação ou mimimi, era tiro e queda e pequenas coisas deixavam o velho feliz. Saudades facilidade.
É que às vezes parece que tá todo mundo pirando - eu, inclusive - por pouca coisa, detalhes que todo mundo tem que lidar uma vez ou outra e que passam quando a gente menos imagina. E olha, falo isso porque eu mesma ando me destacando como a rainha do exagero, do mimimi e do fim do mundo, em vários sentidos. Por isso acho que agora deu, né. Chega de papinho chato, dê-erres eternas e rugas de preocupação. Sei lá, acho que assim a gente não chega nos 70 como meu avô chegou, não.

*Lembrei também que vai fazer dois anos que ninguém me chama de Monicleta. Saudades, vovô.