domingo, 27 de março de 2011

A ruguinha e o corretivo

E agora, quem poderá nos esconder?

Era uma vez uma ruguinha. Sempre infeliz, ela vivia ali no cantinho do olho, deslocando-se periodicamente até a parte mais baixa da olheira, mas nunca arredando pé de seu espaço. Dia após dia, semana após semana, ela passava o tempo sem ser incomodada por ninguém, e sua maior realização era mostrar para todos os cremes inimigos que eles não eram de nada e que dali ela não sairia nunca.
Eis que um dia apareceu o corretivo. Todo pomposo em seu formato líquido, ele veio cobrindo tudo e todos, sem se importar com o que ficava por baixo. Quando ele chegou perto da ruguinha, ouviu um riso de deboche por parte dela, o que lhe pareceu uma demarcação de território. Sem se amedrontar, ele foi chegando de mansinho e a encarou de frente, com toda a coragem do tubinho. Diante de tal ameaça, a ruguinha percebeu que não teria escolha além de se esconder, e aceitou - de mal grado - aquela parceria.
O tempo passou e o corretivo foi envelhecendo. Sem aquela alegria matte de viver, ele percebeu que sua cobertura não era mais a mesma, e que após algumas horinhas de trabalho ele já não era forte o bastante pra aguentar a ruguinha. Por outro lado, ela foi recuperando a malandragem de outrora e encontrou algumas maneiras de burlar o poderoso reinado do corretivo.
Dessa forma, a ruguinha foi crescendo e se tornando cada vez mais solene. Sem medo de aparecer, ela aprendeu que só precisava dar um tempo ao seu inimigo que logo ele ia embora, deixando apenas alguns restinhos do que um dia foi a imagem de seu império bege-claro. Inconformado com a perda, o corretivo resolveu se aposentar, firmando residência permanente na caixinha colorida de madeira a espera de seu sucessor na luta contra a ruguinha.

quinta-feira, 10 de março de 2011

O batom vermelho


Lembro que quando eu era pequena, naquela ânsia de ser gente grande e poder me arrumar toda, corria pro armário da minha mãe e afanava várias coisas pra me montar toda no banheiro. Óculos escuros, brincões exagerados, pó compacto da minha avó e, principalmente, o batom vermelho. Era a peça mágica da brincadeira toda: bastava passar o batom que o poder aparecia e eu já era uma pop star.
O engraçado é que quando comecei a me arrumar de verdade, não me interessava por batom nenhum. Odiava até passar gloss, e sempre ouvia da minha mãe pra "dar uma corzinha na boca". Aquele nude natural era uma beleza, cara de morta mesmo e eu parecia uma mini-assombração.
Mas olha, depois que o mundo das cores apareceu pra mim, nunca mais fui a mesma. Não tenho o costume de usar diariamente, mas aquela corzinha que minha mãe tanto falava faz mesmo a diferença. Sei lá, parece que quando o batom é vermelho sua boca chega antes de você meio que pra avisar quem tá chegando, uma coisa meio diva mesmo. Como eu disse antes, é o poder otimizado. Sem contar que quando o batom é bom e você passa direito, o esquema dura bonito através da bebederia, gordice e até pegação. Se duvidar é até a prova de balas.
Por isso eu entendo (e apóio) quem se joga no vermelho-vermelhusco-vermelhante. Juro que sou outra pessoa depois do batom vermelho - e uma pessoa ainda melhor depois da @marinacdias me apresentar ao Rubi Woo, da MAC. É Deus em formato de tubinho portátil, juro pra vocês.