quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Roda viva


Carla fazia Medicina. Carla era loira, olhos azuis, pele branquinha. Carla vinha de uma família de classe média-alta. Carla não bebia. Carla não fumava. Carla tirava notas boas. Carla era católica praticante. Carla votava em um partido de direita. Carla namorava o mesmo garoto desde os 17 anos. Carla queria se tornar pediatra. Carla se dizia feliz.
Karina fazia Publicidade. Karina tinha cabelos e olhos castanhos, pele clara. Karina vinha de uma família de classe média. Karina bebia socialmente. Karina não fumava. Karina era uma aluna na média. Karina foi crismada e desde então não voltou à igreja. Karina se dizia apolítica. Karina era solteira. Karina queria trabalhar em assessoria de imprensa. Karina se dizia feliz.
Maria fazia curso técnico de Enfermagem. Maria era negra, olhos pretos, pele bem escura. Maria vinha de uma família de classe baixa. Maria bebia. Maria fumava. Maria sempre estudou em escolas públicas e se acostumou com recuperações. Maria nunca foi à igreja. Maria votava em um partido de esquerda. Maria tinha dois filhos de pais diferentes. Maria queria trabalhar em postos de saúde. Maria se dizia feliz.
Karina sofreu um acidente. Carla dava plantão no hospital onde Karina foi levada. Maria trabalhava ali como auxiliar de enfermagem. Karina estava à beira da morte e precisava de transfusões de sangue. Carla a atendeu. O banco de sangue estava em falta com o tipo sangüíneo de Karina. Todos os presentes no hospital de dispuseram a fazer o exame de compatibilidade. Maria foi a única que pôde ajudar. Karina sobreviveu.

*Crônica publicada originalmente no boladafoca.blogspot.com

6 comentários:

  1. Boa crônica. O parágrafo que une as três histórias poderia ter sido mais completo, mas ainda assim é muito bom o texto. beijos!

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  2. Gostei muito do seu texto! Bem criativo! Me lembrou Drummond com aquele poema "João amava Maria, que amava Pedro", essas sucessões de acontecimentos que se unem por um mesmo motivo. Tb me lembrou os filmes do diretor mexicano que fez o filme 21 gramas e Babel.

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  3. são os acasos da vida. é estranho como muitas vezes estamos no lugar certo, na hora certa e podemos fazer a diferença. estranho porém, acontece muito...

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  4. não sei pq achei que o fim seria triste... mas deve ser pq eu curto um drama mesmo :D
    boa a cronica :*

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  5. Exatamente como acontece na vida! As muitas vidas se cruzam e maneiras inesperadas. Muito legal o texto, mesmo!

    Beijocas! =)

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